Lygia Imbelloni

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Que inseguranças fazem você se limitar?

Lygia Imbelloni

Tempo de Leitura: 2 minutos

maio 4, 2025

Não há texto de autoajuda clamando para termos amor-próprio que resolva.

Tenho 46 anos! Há 30 não usava uma blusa sem manga. Por volta dos 16 anos ouvia minha mãe constantemente dizendo, seu braço parece um pernil! Isso me impactou de tal forma que deixei de usar roupas sem manga.

Parece uma besteira, ou até engraçado, mas não é. Imagine um calor do Rio de Janeiro e nunca usar nada sem manga. Mais que isso, a insegurança do corpo não parou aí. Ouvindo constantemente que precisava emagrecer para ficar bonita (era feia portanto), que estava muito nova para ficar largada, que não ia arrumar ninguém (!!) se não me cuidasse, fez com que eu nunca usasse um biquini na frente de amigos de escola e faculdade. E não estou dizendo que usava maiô, simplesmente era a pessoa que não ia à praia com o grupo ou sempre estava vestida evitando a piscina nos churrascos.

Essa insegurança perdurou muitos anos. Até que com muito trabalho olhando para dentro, muita dedicação na terapia, entendendo que não podemos nos limitar a padrões estabelecidos e impostos pela sociedade, passei a me ver de outra forma. Entendendo não apenas que somos mais que um corpo, mas, especialmente, que há beleza em todos os formatos de corpos.

Ainda com insegurança, passei a usar biquini e ir à praia, mesmo que no início sempre colocando uma canga na frente da barriga (como se adiantasse alguma coisa!), passei a me ver bonita e gostosa! Primeiro, e principalmente, por mim mesma, depois pelo olhar de amigas e, também, pelo olhar de homens importantes que passaram pela minha vida.

Entretanto, usar a blusa sem manga ainda era um desafio. E hoje após 30 anos, decidi que precisava ultrapassar essa barreira. Tão importante, que virou esse texto.

Em relação ao trauma gerado por tantas falas da minha mãe, conversamos sobre isso recentemente. Nunca havia comentado. Ela riu num primeiro momento, achou engraçado e uma besteira. Quando expliquei, ela ficou triste, e entendeu o impacto que palavras têm na formação de alguém. Se desculpou e ficou mais atenta. Não apenas comigo, mas agora também com a Julia, de 5 anos, filha da minha irmã. Essa conversa também fez parte da cura! Algo que me toca tanto que ao escrever agora sobre isso, meus olhos enchem de lágrimas.

Nos limitamos por tantas coisas que ouvimos, por lugares em que nos colocam. Não é fácil sair disso. E não há texto de autoajuda clamando para termos amor-próprio que resolva. Para tantas coisas, nem sabemos de onde veio, como foram criadas em nós. É necessário um olhar para dentro, um esforço constante para sair de algo que parece tão intrínseco.

Essas limitações podem ser muito maiores que colocar o braço à mostra em um dia de calor. São as mesmas que nos fazem calar em uma reunião, em uma roda de conversa. As mesmas que nos colocam em um lugar pequeno em que não somos capazes ou insuficientes. Assim, vamos nos limitando em tantas outras esferas de nossas vidas.

Hoje saí feliz (ainda que um pouco insegura), por ter ultrapassado mais uma barreira. Qual a sua? Já pensou sobre isso?